Os (i)nomináveis

Ei, você. Você mesmo. Parado aí atrás, procurando aquela coisa perdida entre você e o resto. Digo... Procurando aquela coisa perdida entre o resto – você – e o outro resto. Seja ele o que for. Você. Que cegamente confiou naquele sujeito a um século de ser dado como louco, naquele ser de unhas imensas e imundas, que fabricava o silêncio mastigando a própria língua – o que por si só já revelava a sua imensa falta de bom senso... Mas talvez fosse falta de bom senso o que você buscava, não? Você. Sujeito atravessado por crenças tão exatas. Esse pleonasmo necessário. Você. Que buscava o caos dentro das próprias certezas. Sim, o `caos`. Que com todo o seu esforço, com todo o seu ímpeto anti-dialético só existe quando eu digo: `certeza`. Você. Que isolado na sua bolha antisséptica ainda está a lutar contra as certezas. Guerreiro ilustríssimo dessa guerra de última hora. Porém necessária, você dirá. Porém sangrenta!... (Embora eu nunca tenha visto muito mais do que meia dúzia de assassinatos cênicos, cortes improvisados, balas de festim...) Você mesmo. Aí sentado no alto das escadarias, por detrás do seu cargo vitalício, do seu olhar de lince, sempre à procura de algo que desautorize tudo que não a sua própria e patética retórica. Deve haver mesmo em cada um de nós um prazer sórdido em destruir as estruturas que nos põem de pé. E você, o mais sórdido dos sujeitos, há de dizer simplesmente: “mas que estruturas?” Bem ali. Onde o bicho busca o próprio rabo... Esse gesto atávico, essa punheta sem gozo, para ser mais claro.
Mas eu... Agora vamos falar de mim. Eu também estou aqui brincando de fazer castelinhos no vazio, de enrolar minha própria língua, de cobrir páginas brancas com a minha própria sujeira. Não se engane, eu nunca disse que somos assim tão diferentes. Embora eu talvez busque ainda um final grandiloquente. Uma redenção ou um apocalipse, o que talvez seja apenas uma nostalgia inócua. Ou quiçá um reacionarismo perigoso, como lhe será tentador dizer. Pouco importa. Apenas estou tentando diferenciar as coisas, colocar os pingos nos is. Sei que não te apetece fazer isso, mas é justamente por isso que, de alguma forma, você me interessa. Eu elejo você para destruir o meu castelo e você elege o meu castelo para destruir. Você o invasor. Eu, o invadido.
Fomos nós quem quisemos assim.

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