Rumo a Av. Rio Branco

É, baby, faz tempo né, do tempo em que dizíamos um ao outro que não havia no mundo nada como o nosso amor, do tempo em que comparávamos a grandeza do amor à das coisas astrais...
Lembra que sonhávamos que éramos os revolucionários do século, que lutávamos em 68, que destruíamos com nossas metralhadoras a fome do mundo, lembra?
Faz tempo, baby, hoje o meu amor passa pela porta, senta-se à mesa, deita-se de meias no final do dia. Faz tempo. Mas ele ainda acorda, faz o café, deixa a casa para trazer o pão.
Não é que tomamos rumos...que deixamos pra trás os caminhos que desenhamos com as palavras enquanto o mundo lá fora ia parar em manchetes de jornais estendidas nas bancas?
Olha pra você, ficou linda metida nessas roupas, sustentando essas novas idéias. E mantém tão bem esse mundo ao seu redor, nem parece a menina que se enfiava embaixo dos lençóis, que se escondia no último vagão do metrô.
Volta e meia eu me pego pensando em você, comparando esse amor que toma o ônibus todos os dias, que chega pela madrugada nas pontas dos pés para não fazer barulho, com todas aquelas promessas, com todos aqueles sonhos que o abrir das janelas despedaça. E eu nunca chego a lugar nenhum.
Eu sigo tomando o ônibus pela manhã, virando as páginas de calendários que mostram grandes pintores ou estrelas de cinema, eu sigo operando a máquina e trocando os lençóis em terríveis manhãs de domingo. E volta e meia sonho com revoluções, batendo a cabeça no vidro da janela às segundas-feiras pela manhã, rumo à av. Rio Branco.

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