Poema do desencontro

Então era aquela a sutil armadilha:

Programar encontros futuros
sem a ajuda dos relógios reais
despedir-nos sem nenhuma paisagem porvir
sem nenhuma estação de trem amparada
pelos ponteiros das horas exatas
que medem o esforço humano
que roubam do tempo sua propriedade aérea
sem a qual nos encontraríamos
no mesmo lugar que nos deixamos.

Mas não nos encontramos
mas não nos encontramos

Lançamos balões aos céus
e enterramos cartas de amor em campos de guerra
nesses campos onde tudo se move e todos se perdem

As indústrias e os quartéis
planejam o desencontro
mas nem sabem
e quem é que faz a hora
que por vezes desatina
a máquina da vida
e a desfaz
e faz girar ao revés
lançando ao mar
mesmo os aviões da paz

Quem será esse artesão secreto
que esconde na diferença entre o dia e a noite
e nos relógios de areia
a mesma fagulha que esforça os ponteiros
dos relógios mais precisos

A areia que escorre das nossas mãos
é um pedaço do mundo que roubamos
e ele parece tão grande quanto todo o resto que ficou
e então eu te pergunto:
qual é o máximo do mundo que podemos ter?
com quem negociar
que leis seguir ou criar
quais os relógios que agenciarão os nossos encontros daqui pra frente?

Como devemos nos despedir meu amor?
escolher entre o adeus e o até logo:
- é aqui que pesam todas as horas.

6 comments:

júlia vita August 8, 2009 at 11:46 AM  

Parabéns pelos textos, lindíssimos! to te seguindo!

júlia vita August 8, 2009 at 11:49 AM  

minto, nao estou te seguindo pois não achei aqui onde o faço!

Flávia,  August 9, 2009 at 1:09 PM  

poxa, sou geminiana né! comentários anônimos podem me matar de curiosidade :p
obrigada pelo elogio e generosidade! vou tentar descobrir aqui como botar a ferramenta de seguidores :)

Anonymous,  August 25, 2009 at 7:02 PM  

Flavinha! Tudo bem, minha amiga?

Lindo poema! Já havia lido há algum tempo e acabei de ler de novo. Eu adorei, achei lindo mesmo, mas não vou comentar por aqui não, pra variar, haueheuae! Não vou ficar aqui racionalizando o seu lindo poema, hehehe.

Beijão!

Roberto B. September 8, 2009 at 7:31 PM  

moça, eis aqui um belíssimo poema!

eu prefiro o "até logo", soa com a porta entreaberta....prefiro.


beijo

r.

Renan Nazzos February 23, 2010 at 5:52 AM  

Sou apaixonado por esse poema, Flavinha!
Gosto muito de tudo o que leio aqui.

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