Poema zero

Entre o cálculo perfeito
e a concretude áspera
do cimento e dos tijolos

a nossa completa ignorância
de que a qualquer momento
esse mundo pode desabar sobre nós

e seus limites de asfalto e céu de cal
planejados pela ciência do homem
sempre aquém do movimento

das placas que sob o magma colidem
sem pulsão, sem função, por acaso
por descaso por tudo que há

de sustentado por essa ilusão
falível mas suficiente
que sustenta os prédios

que aterra os mares
que domestica átomos
que esvazia os cemitérios

conferindo à paisagem
a mudança enganadora
que movimenta a engrenagem

das engenharias e das linguagens
as verdadeiras armas que limitam
o vazio com as paredes tangíveis

que nos protegem de escorrermos
pelos sonhos mais do que pela morte
- que só ficam intactas as arestas do mundo.

2 comments:

Anonymous,  May 15, 2009 at 5:49 PM  

Flávia!

Estou emocionado! LINDO poema! Estou sem palavras...

Michelle Kaplan June 2, 2009 at 11:57 AM  

Amiga!!! Venho sempre no seu BLOG. Estou acompanhando! Vá no meu tb! Estou com escritos novos!!! Bjooo e vamos marcar um Boomerang, que seja! hahaha

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